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Onde os pés descalços são felizes

África fascina-me. A terra batida, as ondas de calor no horizonte, a água cristalina, as praias virgens e o verde… o verde que tem origem na época de chuvas e que caracteriza os lugares onde estive em São Tomé e Príncipe.

águas cristalinas e verde em São Tomé e Príncipe

“Um mês onde a estrada acaba em São Tomé…” ​

Repeti esta frase para mim muitas vezes antes de partir. Não sabia o que esperar, ia hesitante, com receio mas ao mesmo tempo ia de braços abertos para viver um novo desafio. Ia pisar território virgem, abrir um projecto idealizado sem conhecimento de causa. Santa Catarina surpreendeu-me. Foi preciso conhecer a comunidade para perceber que nenhum plano feito previamente em Portugal ia resultar sem conhecer as pessoas. São as pessoas que tornam Santa Catarina especial, um lugar único no mundo.

Os homens são trabalhadores e as mulheres são umas guerreiras, as crianças são felizes com os jogos que inventam na rua e os idosos são eternamente gratos por tudo o que as irmãs franciscanas fazem por eles no centro de dia.

Existem falhas, principalmente falhas governamentais e educacionais, mas a cultura responde de uma forma positiva: não existem problemas, mas sim soluções.

Conheci a Dona Céu, trabalhava no Centro de Dia das Irmãs Franciscanas. Cozinhava para cerca de 40 idosos e ainda fazia todos os dias refeições ao domicílio para levar a quem não tinha capacidades para sair de casa. Todos os dias percorria 5 km a descer e a subir para ir trabalhar. Não falhava um, mesmo com cinco filhos e um marido que perdeu as pernas num acidente antes de se casarem.

Para além de cozinhar também tinha uma pequena mercearia perto de casa, que a filha mais velha geria quando a mãe não podia. Nunca a vi de boca cerrada e olhar suspeito. Olhava-me sempre com um carinho imenso, como uma mãe olha para uma filha. Quando tinha fome, dava-me bananas que apanhava dos campos de bananeiras em Santa Catarina. Quando estava triste, dava-me um abraço e confortava-me com um sorriso, quando estava feliz partilhava comigo o momento como se fosse dela.

campos de bananeiras em STP

O dia mais marcante da minha estadia com a Dona Céu foi quando me mostrou a casa que estava a construir sozinha para conseguir viver mais perto do trabalho e trazer o marido consigo, para o auxiliar sempre que fosse necessário. A casa era alta, tinha pilares de madeira e estava pintada de azul claro e branco. Ainda não tinha portas nem janelas, nem chão em alguns quartos, era preciso ter cuidado para não cair nos buracos e as vigas de madeira estavam ainda mal instaladas. Mas senti-me bem. A casa não era casa ainda, era um projeto de casa, mas emanava boas energias. Estava a ser construída há 5 anos sensivelmente e a Dona Céu ia comprando os materiais à medida que ia tendo dinheiro.

No final da visita à casa, chorei. Senti-me pequenina ao lado da mulher que dá a vida pela família e pela comunidade. Foi um momento de gratidão, por conhecer alguém assim. Esta experiência fez-me valorizar o que sou e o que tenho. Há pessoas que nos marcam pela sua simplicidade e a Dona Céu foi uma delas.

Este é apenas um dos vários exemplos das pessoas que habitam neste paraíso no final da estrada de São Tomé.

Santa Catarina, onde os pés descalços são felizes.

crianças descalças em STP

Texto e fotos da autoria de Margarida Torres

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