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“Terminaram o curso Parabéns! E agora”. Esta é a pergunta que mais ouvimos nos últimos mes

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Já voltei

Já voltei. Venho com uma lista. Rebobino-a na minha cabeça vezes e vezes sem conta, tornei-a quase uma cassete que toca em sintonia com a vida à minha volta. Vejo os carros a passar na estrada em frente à minha casa, e lembro-me da vez em que andei num tuk-tuk a todo o gás pela Chinatown em Bangkok. Vou sair aos bares ali no Bairro Alto e, de repente, ponho-me a pensar na vez em que fui a uma discoteca em Shanghai, que tinha um aquário enorme cheio de tubarões lá dentro. Um almoço comum leva-me à street food da Coreia, a mais deliciosa que alguma vez provei. Dar banho à minha cadela transporta-me àquela manhã que passei a tomar banho de lama com elefantes. Ando descalça em casa, e a minha mãe ralha-me. Mal ela sabe que no Hostel em Phuket calçar chinelos era proibido, e acabávamos por andar sempre descalços, até na rua. Acampei na muralha da China, vi lá o nascer do sol. Fugi de um macaco por um mosteiro budista fora, ensonada, às sete da manhã, com a escova de dentes numa mão e os 10 yuans para o pequeno-almoço na outra. Dormi num Yurt nas pradarias da Mongólia interior, e o meu corpo ganhou toda uma nova noção de frio essa noite. 

carolina sousa no seu gap year

E hoje? E agora? Talvez partir não seja fácil – requer coragem, vontade, requer o “vá lá mãe, eu volto inteira” e o “não chores avó, daqui a nada já cá estou”, requer encarar a incerteza de quem se lança ao desafio, sem saber se o que diz confortando os outros é o suficiente para se confortar a si próprio. Mas então e voltar? Voltar à certeza do dia-a-dia, às semanas que se atropelam e parecem iguais, voltar às mesmas conversas, mesmas pessoas, mesmos sítios, como se nada tivesse mudado, como se nunca tivesse ido? As histórias tornam-se memórias, e, no fim de contadas, são guardadas na gavetinha do cérebro categorizada com “irreal”. Não faz parte deste real, faz parte doutro. E, às vezes, até para nós que voltamos é difícil acreditar que esse irreal já foi real. Então, por isso mesmo, nunca deixo falhar a cassete, não vá eu também esquecer-me que esses sítios, essas pessoas e essas histórias existem mesmo. 

No início perguntava às pessoas se me achavam diferente. “Não, continuas a mesma”, respondiam-me. Eu dizia “ainda bem”, mas sentia sempre no fundo uma ponta de desilusão. Tanta coisa para vir igual? Cheguei há 3 meses. Exatamente 3 meses. No espaço de 3 meses virei a minha vida completamente do avesso, foquei-me no que gostava realmente, priorizei mais o que sentia que devia, e, na verdade, desde então, tudo me parece muito mais simples. Sempre que algo me assusta, tenho 1000 coisas a que comparar esse medo, e fazê-lo desaparecer. Ando com mais confiança, sinto-me mais livre. A verdade é que ninguém vê que mudamos a não ser nós próprios, no nosso íntimo. Não há um prémio, não vestimos capas de heróis e dói-nos que ninguém saiba, que ninguém faça ideia. Que os nossos melhores amigos não compreendam, não vejam que já não estamos iguais. Voltar pode ser tão ou mais complicado que partir, porque vivemos com um novo eu, que temos de alimentar, que temos de descobrir, que temos de acarinhar. O eu gravado na cassete, o eu que não se cala, o eu que exige mais, o eu que já está a pensar “bolas, já ia outra vez”. 

O meu conselho para quem volta? Não deixem que o passado vos tire o presente. Acarinhem quem foram e o que fizeram, não esqueçam, mas não se prendam. Peguem naquilo que aprenderam e tornem isso num mantra para a vossa vida. E façam dela fantástica, à vossa maneira. 

(Texto escrito em Outubro de 2019, depois de regressar a 10 de Julho de 2019)

Carolina R. de Sousa

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